Embora ainda seja um projeto futuro, chegará o momento em que os bancos autônomos conhecerão bem o perfil de seus clientes para tomar decisões por eles
Os automóveis sem motorista devem se tornar uma realidade em breve. O que parecia um produto de ficção, tem se sido objeto de estudos e testes entre as gigantes automobilísticas e também entre os principais players de tecnologia e inovação, tais como Apple, Google, Tesla e Uber. Mas o poder de transformação não está restrito aos veículos que, além de autônomos, podem ser voadores. Imagine que daqui 10 anos você nem precise acessar sua conta bancária porque a sua instituição financeira aprendeu muito sobre seu comportamento e já realiza alguns pagamentos e investimentos sozinha. Tudo de maneira transparente, rápida e eficiente.
Viu uma ponta de exagero aqui? Se a resposta é sim, preciso lhe dizer que o setor financeiro, assim como o automotivo, está se modernizando muito e caminha para a autonomia. Com a evolução de tecnologias como Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML), o que era simplesmente um banco de dados poderá auxiliar máquinas no aprendizado e tomada de decisões. Dessa forma, a instituição financeira, seja ela um banco ou seguradora, terá ferramentas para estudar o seu perfil e oferecer serviços personalizados, de acordo com as suas necessidades naquele momento.
Segundo Pedro Bicudo, analista da consultoria ISG, as assistentes virtuais estão evoluindo a tal ponto que, em cinco anos, elas serão capazes de responder, por exemplo, quanto você deve economizar por mês para ter uma vida mais tranquila no futuro. Em 10 anos, é provável que as estruturas de tomada de decisão nos bancos estejam tão maduras para agirem de maneira autônoma, sempre com foco na experiência do usuário.
Para que isso aconteça, outras medidas serão fundamentais antes mesmo do lançamento do banco autônomo, como a implementação do Open Banking, que permite aos titulares das contas correntes escolherem com quem desejam compartilhar dados pessoais, saldos e investimentos. Até pouco tempo essa iniciativa seria negada, pois o modelo de negócios do banco foi construído para “proteger” os dados dos clientes e utilizá-los apenas em benefício próprio. Agora, as instituições financeiras tradicionais precisarão se adaptar a um novo momento, de abertura e de inovação.
Isso já está ocorrendo por meio de parcerias com startups, fintechs e empresas de tecnologia que utilizam APIs (Application Programming Interface, ou Interfaces Programáveis de Aplicativos) para criar uma imensa variedade de serviços financeiros que não estão hoje no portfólio de produtos dos bancos. As APIs são sistemas de acesso digital que permitem que softwares e serviços possam ser integrados. Um aplicativo que você usa rotineiramente no seu celular, por exemplo, é feito de várias APIs.
No caso do Open Banking, a API será uma ferramenta para utilizar os dados de maneira criativa. Com ela, será possível unir as plataformas bancárias e das startups, agregando valor à instituição com a criação de novas experiências ao usuário. Embora algumas organizações vejam a mudança com receio, para os grandes bancos será uma oportunidade de ampliar as possibilidades de receita sem fazer investimentos altos para criar produtos e serviços especializados, que ficarão por conta das fintechs.
“Se um grande banco não abre a plataforma, o concorrente fará e deixará os demais para trás. O processo traz funcionalidades mais amplas, focadas em nichos de mercado, o que permite ao usuário final acessar um volume maior de serviços com tarifas competitivas”, explica Pedro Bicudo.
De acordo com o Ailtom Nascimento, vice-presidente da Stefanini, os bancos vêm integrando e atuando de modo orientado por meio de APIs. Portanto, é possível aumentar o nível de qualidade e o amadurecimento das plataformas criando uma infraestrutura robusta para acelerar a entrega de novos serviços para o consumidor final, que almeja novas experiências. “Trabalhamos no desenvolvimento de projetos que envolvem soluções de Big Data e Analytics, Inteligência Artificial e Tecnologia Cognitiva, Machine Learning e IoT, que são fortemente aplicadas. É plausível desenvolver diversas aplicações na indústria financeira, em soluções de meios de pagamentos e projetos que melhoram a experiência do usuário e o engajamento dos mesmos com novas soluções móveis”, comenta o executivo.
Para regulamentar a utilização do Open Banking no Brasil, o Banco Central quer instituir uma série de regras a serem seguidas pelo mercado a partir da adoção dessa nova lógica em que os bancos serão obrigados a compartilhar informações de seus clientes. O BC mantém discussões com bancos e fintechs e deve divulgar uma proposta ainda este ano, para que a abertura dos dados comece a partir de 2020. Inspirada no modelo adotado na Europa, a implantação será feita em etapas, ou seja, o cliente escolhe se autoriza ou não a divulgação das informações, com base na nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A atividade de Open Banking não é novidade no Brasil. O Banco Original, por exemplo, decidiu em 2016 compartilhar seus dados com o Instagram, rede social vinculada ao Facebook, permitindo que o saldo da conta pudesse ser consultado na ferramenta Stories. No ano seguinte, o Banco do Brasil abriu uma porta para integrar-se ao Conta Azul, sistema de gestão on-line de finanças para pequenas empresas, disponibilizando um serviço de inteligência financeira aos seus clientes.
Com a regulamentação do Open Banking, a proposta é deixar o sistema financeiro mais transparente e competitivo, além de empoderar o cliente, que passa a ser dono de seus dados, podendo transacionar da forma mais conveniente. As pessoas podem movimentar suas contas a partir de diferentes plataformas e não só pelo aplicativo ou site do banco.
O futuro das transações bancárias
O sócio-líder de serviços financeiros da KPMG no Brasil, Ricardo Anhesini, defende que o Open Banking representa o futuro das transações bancárias, uma vez que amplia significativamente as possibilidades de negócios. “Esse conceito está revolucionando o setor, criando novas oportunidades e transformando o modelo de negócios das entidades dedicadas ao setor financeiro. Considerando que o Banco Central caminha no sentido da regulamentação dessa prática, veremos uma nova onda de transformação, comparável com a introdução do Sistema Brasileiro de Pagamentos ou da criação da Indústria de Fundos de Investimentos. Essa nova onda colocará ainda mais poder nas mãos dos consumidores,” assinala.
Ao comentar sobre a pesquisa “Is open banking open for business” (“O open banking está aberto para os negócios”), realizada no Reino Unido, o executivo destaca que as empresas de pequeno e médio porte ainda precisam ser convencidas sobre os principais benefícios da tecnologia para que possam desenvolver e implementar modelos de negócios mais inovadores e flexíveis.
Segurança
Segundo Pedro Bicudo, analista da ISG, a regulamentação do Open Banking passa também pela segurança, que deverá ser incorporada às APIs. “Se a empresa não chegar ao nível de segurança proposto pelo banco, ela não conseguirá desenvolver um aplicativo, por exemplo”, explica o executivo.
Para evitar que hackers explorem vulnerabilidades simples, mas que podem, a partir do acesso ao computador de um funcionário bloquear a conta de toda a empresa e exigir resgate em bitcoin – dessa forma não é possível rastrear quem levou o dinheiro -, é preciso investir em pessoas altamente qualificadas para cuidar da segurança dos ambientes corporativos e, com isso, encontrar o equilíbrio entre a proteção dos dados e a experiência do usuário.
“Combater os crimes digitais depende de ações adequadas de gestão baseadas em pessoas, processos e tecnologias. Com essa tríade, as organizações terão mais agilidade para detectar e mitigar ataques”, diz Longinus Timochenco, diretor de Cyber Defense da Stefanini Rafael para a América Latina.
Topaz: plataforma robusta para atender os desafios do banco digital
O cliente bancário está cada vez mais migrando para os serviços de mobile banking. A Pesquisa de Tecnologia Bancária 2018, divulgada pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), apontou um crescimento de 70% nas transações financeiras por aplicativos de celular no ano passado, impulsionado pelo pagamento de contas (85%), transferências/DOC/TED (45%), contratação de crédito (141%) e investimentos/aplicações (42%). Segundo a pesquisa, os clientes bancários realizaram 25,6 bilhões de transações via aplicativos no último ano, uma alta de 38% em relação a 2016. A modalidade equivale a 35% do total de 71,8 bilhões de operações bancárias no ano passado.
A participação do mobile cresceu 3,5 vezes em relação a 2011, confirmando esta modalidade como a opção preferida para realizar operações bancárias. De acordo com a pesquisa da Febraban, mobile e internet banking contabilizaram, juntos, 5,3 bilhões de operações com movimentação financeira em 2017.
Para apoiar a transformação bancária e auxiliar no processo de transformação digital das instituições financeiras, a Stefanini desenvolveu a solução Topaz, com capacidade de realizar todas as etapas do gerenciamento do banco, permitindo que empresas financeiras de qualquer porte transformem seus processos de Core Banking com maior agilidade, facilidade, segurança e redução de custos.
“Nossa solução está preparada para atender a estratégia de qualquer banco, independente do tamanho. Temos uma plataforma robusta e uma equipe totalmente capacitada para apoiar a construção desse novo mundo”, afirma Jorge Iglesias, diretor da Stefanini, responsável pela plataforma que foi utilizada para suportar a transformação digital do Sicredi, instituição financeira cooperativa presente em 22 estados brasileiros e no Distrito Federal, e que atende a 3,7 milhões de associados.
O projeto contemplou a substituição gradual do core bancário, sistema que processa os produtos e serviços, com o objetivo de atender a demanda dos associados por conveniência e agilidade, além de conectar mais pessoas por meio do cooperativismo. “Com uma plataforma modular, escalável e fortemente integrada aos canais digitais, por meio de APIs, esperamos ampliar, em 2019, nossa atuação em outros bancos do Brasil e América Latina”, destaca o executivo.
Além da solução de core banking utilizada pelo Sicredi, a Stefanini conta com uma oferta completa de banco digital. Cada projeto pode ser desenhado e implementado em até quatro meses, de maneira consultiva, podendo incorporar, de acordo com a demanda, as seguintes soluções: originação de cadastros, contas e créditos; a assistente virtual Sophie; soluções para assinatura eletrônica de contratos pela web ou via aplicativo, assinatura digital, ferramentas de segurança cibernética e imagens para gestão de garantias dos créditos de agronegócio; captura de documentos e processamento de imagens; tesouraria e backoffice, plataforma de engajamento, analytics e moeda digital (Okanii). “O ecossistema de inovação da Stefanini garante a oferta de uma solução ponta a ponta para tornar as instituições financeiras ainda mais competitivas”, reitera Jorge Iglesias.
Segundo Ailtom Nascimento, vice-presidente da Stefanini, já existe toda uma movimentação para ajudar os clientes nesse momento de transformação digital. “O mundo está cada vez mais volátil e as instituições financeiras têm grandes chances de idealizar projetos que promovam essa mudança muito mais rápida, assertiva e dentro da regulamentação para a implementação”, ressalta.
Para Breno Barros, diretor global de Inovação & Negócios Digitais da Stefanini, a economia digital trouxe um novo desafio para as instituições financeiras, que precisam se transformar o tempo inteiro. “Não há disrupção apenas com a tecnologia, mas principalmente com as pessoas. Por isso, as corporações devem mudar a forma de lidar com elas para que a transformação digital realmente aconteça para todos. Não são empresas que mudam, são as pessoas”, comenta.