Será o fim do “efeito bolha” ou somente uma ampliação dele?
Não é novidade que a evolução da construção humana do pensamento é impactada pela capacidade de nossas tecnologias e isso acontece cada vez mais rápido.
A nossa interação social partiu do conhecimento intrínseco e influência de um restrito grupo que nos rodeava para um sistema global de informação que, mais tarde, foi muito influenciado pelo algoritmo, voltando a incentivar o efeito bolha, mais abrangente, é verdade, mais ainda enviesado pelo nosso próprio interesse e perfil.
Agora, temos um novo capítulo para considerar nessa história, a popularização da Inteligência Artificial.
Esse artigo é um alerta sobre como o uso da IA não altera somente nossos hábitos, mas também pode modificar a construção humana do pensamento, a formação do conhecimento e crítica popular, comparado ao que vemos atualmente em nossa sociedade. Independente de erros e acertos nesse processo, devemos estar preparados para acompanhar e reagir a tão interessante evolução humana.
Todos nós já pesquisamos e vimos pessoas próximas a nós “dando um google” para tirar dúvidas e aprofundar discussões e já estamos acostumados a considerar isso no nosso dia a dia, da mesma maneira, as marcas também ponderam isso em suas estratégias. Surge então uma outra ferramenta nessa dinâmica e cada vez mais pessoas optam por perguntar para IA – seja um questionamento pontual para Alexa ou para Siri ou uma pergunta estruturada e de negócio para o chat GPT. E qual o impacto dessa tendência?
A capacidade da IA de processar uma infinita quantidade de dados facilita a nossa compreensão de informações complexas. Pensando nisso, cada vez mais ela é usada para montar propagandas, fazer storytelling, direcionar treinamentos e cursos, entre outros. Ou seja, o conteúdo que consumimos está cada vez mais relacionado ao modo como a IA o interpreta.
Uma discussão muito frequente é o quanto o algoritmo dos sites de busca e redes sociais impactam na nossa visão de mundo e reconhecimento do que é verdade, dificultando a análise de todos os lados de uma mesma questão. Se por um lado a troca pela IA pode ser uma alternativa para fugir do nosso próprio algoritmo, temos novos desafios nessa adoção. A dificuldade de distinguir fontes confiáveis continua e, além disso, a IA pode ser programada de maneira a perpetuar desigualdades sociais e de gênero e desconsiderar cada vez mais a regionalização.
Dessa maneira, é importante ter um posicionamento crítico e consciente também com essa tecnologia, mas nem sempre isso acontece. Ou seja, cada vez mais reagiremos ao mundo através das lentes da inteligência artificial e esse é um caminho sem volta.
Sendo assim, o profissional de insight e investigação do comportamento humano não pode ignorar essa variável na interpretação e influência da crítica e lógica mental dos indivíduos. Em consequência, as marcas sentirão a necessidade de ajustar sua comunicação e adaptar seu plano e estratégia de mídia considerando esse novo cenário. Quem não o fizer, terá uma visão deturpada da realidade e, no caso das marcas, perderá relevância e intimidade com o seu público-alvo.
Por Daniela Formaio , Diretora de Contas da Ecglobal